O Diário do Diabo


Há quem tenha medo do Cramunhão. Eu concordo. Da maneira como o pintam até mesmo eu, homem feito, tenho meus medos. Mas tudo muda quando, o Coisa Ruim, começa a relatar sua história de maneira bem-humorada através dos séculos. É deste modo que o diário dele, o Coisa-Ruim, cujo nome atende por Nicholas D. Satan, transcrito, séculos depois, pelo professor M. J. Weeks, relata sua vida no óscio e no pecado. Desde sua expulsão do paraíso, por não concordar com os planos de Deusão (modo como o Demo se refere a Deus), passando pelos sete dias da Criação, ironicamente retaliados pelo tal Belzebu, aos modelitos, símbolos, expressões e invocações que ora o deixaram ‘queimando em brasa’ (o que não seria tão ruim assim, seria?). Outros fatos históricos (cruéis é claro) que marcaram a história da humanidade também constam no diário. A Peste Negra (a qual teve ele que fazer parceria com a morte) devido à rápida disseminação, o que deixou o inferno lotado. A ‘Divina Comédia’ escrita depois de um tour que Dante Alighieri fizera no inferno. O Livro do Mal, Malleus Maleficarum, que nos tempos da inquisição, disseminou uma comunidade na Europa. Nostradamus, Martinho Lutero, o Iluminismo, e o poder de persuadir Descartes e Galileu na ‘Idade da Razão’. Independência americana, ideias seguidas mais tarde pela Revolução Francesa em tempos de Revolução Industrial e outros fatos tão interessantes quanto aos que tomei nota para citar neste pequeno comentário. Uma obra maléfica, que em nada assusta, mas muito ensina. Não, o Diabo deve ter esquecido que, ao escrevê-la estaria relembrando as históricas atrocidades vividas pela humanidade, narradas de um maneira engraçada e prazerosa, ensinado muito mais do que pensava a nossa vã política de boa vizinhança. Recomendo, assim com a mim fora gentilmente recomendado, e emprestado diga-se de passagem, pela Danielli Zanini. Ah, esqueci de comentar. A estética da obra é divina, inclui ainda um contrato confuso e cheio de letras miúdas a ser assinado com sangue em troca de, digamos, favores espirituais.