O meu canto
é a imagem
mas hoje
não me apetece cantar!



I know sometimes
It's gonna rain
But baby, can we make up now
'Cause I can't sleep
Through the pain

[Ne-Yo - Mad]



Por que não nasci eu um simples vaga-lume?


[Machado de Assis ]


'descarte


descartes:


ame.


''... chovia sempre e eu custei para conseguir me levantar daquela poça de lama, chegava num ponto, eu voltava ao ponto, em que era necessário um esforço muito grande, era preciso um esforço muito grande, era preciso um esforço tão terrível que precisei sorrir mais sozinho e inventar mais um pouco, aquecendo meu segredo, e dei alguns passos, mas como se faz? me perguntei, como se faz isso de colocar um pé após o outro, equilibrando a cabeça sobre os ombros, mantendo ereta a coluna vertebral, desaprendia, não era quase nada, eu mantido apenas por aquele fio invisível ligado à minha cabeça, agora tão próximo que se quisesse eu poderia imaginar alguma coisa como um zumbido eletrônico saindo da cabeça dele até chegar na minha, mas como se faz? eu reaprendia e inventava sempre, sempre em direção a ele, para chegar inteiro, os pedaços de mim todos misturados que ele disporia sem pressa, como quem brinca com um quebra-cabeça para formar que castelo, que bosque, que verme ou deus, eu não sabia, mas ia indo pela chuva porque esse era meu único sentido, meu único destino: bater naquela porta escura onde eu batia agora. e bati, e bati outra vez, e tornei a bater, e continuei batendo sem me importar que as pessoas na rua parassem para olhar, eu quis chamá-lo, mas tinha esquecido seu nome, se é que alguma vez o soube, se é que ele o teve um dia, talvez eu tivesse febre, tudo ficara muito confuso, idéias misturadas, tremores, água de chuva e lama e conhaque batendo e continuava chovendo sem parar, mas eu não ia mais indo por dentro da chuva, pelo meio da cidade, eu só estava parado naquela porta fazia muito tempo, depois do ponto, tão escuro agora que eu não conseguiria nunca mais encontrar o caminho de volta, nem tentar outra coisa, outra ação, outro gesto além de continuar batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, batendo, na mesma porta que não abre nunca.

[Caio Fernando Abreu]




Se o amor é fantasia,
eu me encontro ultimamente em pleno carnaval.

[Vinícius de Moraes]


Ela olhava para ele e percebia que o seu olhar nunca seria dela. E também era certo que o dela nunca seria dele. Espreitando à volta, reconhecia a imensidão do mundo que existia para olhar. Isto sem contar com o universo imenso do "olhar para dentro". De si, dele... dos outros todos. Do universo das sensações dele, ela não poderia saber, nem sequer falar. Talvez nem das suas.
Desejou ser o todo do olhar dele mas sabia que não continha em si o mundo todo que há para olhar. Na verdade, apesar disso, interrogava-se. O todo seria todo em extensão ou em compreensão? Ou seria a fusão de ambos? Certo, certo, do todo não sabia. Incerto e firme, porque convicta, sabia do amor - que o amor não é extensão, tão só compreensão.



[Ana.Paula.]





"... As pessoas podiam fechar os olhos diante da grandeza, do assustador, da beleza, e podiam tapar os ouvidos diante da melodia ou de palavras sedutoras. Mas não podiam escapar do aroma. Pois o aroma é um irmão da respiração. Com esta, ele penetra nas pessoas, elas não podem escapar-lhe caso queiram viver. E bem para dentro delas é que vai o aroma, diretamente para o coração, distinguindo lá categoricamente entre atração e menosprezo, nojo e prazer, amor e ódio. Quem dominasse os odores dominaria o coração das pessoas."

[Patrick Süskind]





'Arco-íris no céu.

Está sorrindo o menino
que há pouco chorou'

[Helena Kolody]

So take this moment Mary Jane and be selfish
Worry not about the cars that go by
All that matters Mary Jane is your freedom
So keep warm my dear, keep dry

Tell me
Tell me
What's the matter Mary Jane?