Cultura e diversidade sem igual dos mais diversos cantos do país. Idealizado pelo jornalista Mauricio Kubrusly que, após tantas reportagens para o quadro ‘Me leva Brasil’, o livro mergulha no nada imaginário popular. Sim, todas as histórias são verdadeiras. Algumas bizarras, outras engraçadas, e em alguns casos, tristes. Contadas de modo simples, direto e com total impessoalidade.

Decidir qual seria a primeira obra literária para compor o desafio (um livro por semana) não foi tão complicada. Primeiro, teria que ser uma obra com a cara do Brasil. Segundo, deveria trazes fatos. Terceiro, os fatos precisariam ser diversos. Pronto. Receita no forno, digo, no livro, mãos a obra. Página a página as histórias contadas são de um Brasil simples, muito mais simples a que estamos acostumados a ver na televisão, ou até mesmo naqueles livros com histórias folclóricas nos quais os fatos, na maioria das vezes, são escondidos pelo imaginário popular. É compreensível. Em ambientes de extrema pobreza o povo sofrido, precisa buscar forças nas crenças que inventa, ou que ouviu falar.

Lugares onde as grandes oportunidades não existem e o preço de um dia inteiro de suor sob sol forte e condições precárias não passa de R$ 1,00. Onde nota de 5 é aparição e a ‘tapera velha, desgarrada’ só é melhor do que nada.

A obra comprova, e quem assistiu pode confirmar, que a parte mais pobre e talvez mais bizarra do Brasil ficasse no nordeste. Não é a toa que mais da metade das histórias sejam de lá. Da cidade quase sem canos àquela que conta a história de nosso ex-Presidente Lula, do filho que criou uma avenida com o nome da mãe dentro de casa, tamanho seu amor por ela ao pai cabeleireiro, macho, ‘craque’ de bola do pior time do mundo. Os nuances são construídos e separados por assuntos. Não em forma de contos, o livro não se propõe a isso, mas numa linguagem quase jornalística-popular, ora temos impressão que o jornalista nos fala, ora ficamos com a sensação de que os próprios personagens tomam forma, roubam a cena e nos contam na primeira pessoa, cada episódio.

Confesso que senti falta do povo gaúcho. Será que não temos história para contar ou nos esquecemos de que as histórias boas são aquelas que fogem os livros, correm lugares e acabam inusitadamente nas mãos de jornalistas curiosos. São 150 histórias e seria mentira dizer que há uma que mais gostei. Mas posso confessar a mais curiosa: a privada com a vista mais bonita do Brasil, onde tem muita gente que espera mais tempo na fila para apreciar a paisagem que para... A todos uma boa leitura.

Texto: João Paulo Massotti