Cobrei o que ele estava me devendo, embora devesse muito mais. Não aceitei juros, nem desculpas, apenas o cobrei da maneira que deveria tê-lo feito havia tempos, agora tarde demais. Não há mais aquela droga de sentimentalismo barato que me apetece todas as vezes em que eu, sozinho, saio de casa à noite, para alimentar meu ego com coisas negras.
A lua. Sim, a lua. Ela ainda me entende. Ela ainda consegue brilhar depois de tantas e tantas tempestades. Depois de tantas feridas e pele morta. Ela brilha por que sabe que do outro lado, de alguma maneira, o sol ainda a espera. Não brilho mais, porque não tenho um sol em minha vida.
Abri a janela. Preciso deixar o ar entrar.
Pelas frestas da noite bizarra, ainda vejo você lá fora, refletido na luz da lua, sol da meia noite.
Fecho a janela. Não quero mais olhar. Tenho medo da sensação que vem depois. Aquele frio que a brisa traz consigo. Espero. O relógio marca onze horas. Os ponteiros parecem facas afiadas prontas p'ra fatiar o tempo em pedacinhos tão pequenos que não há como contar ou procurar o que sobrou daquilo que fomos, se é que fomos um dia.
Agora vou me preocupar com o noticiário da meia-noite e esquecer que em mim, bem lá no fundo, ainda há um 'ataque suicída' nas noites em que a lua brilha cada vez mais certa de não possuir luz própria.

[A pedidos de Madallena by João]